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LIÇÃO Nº 7 – A FÉ SE MANIFESTA EM OBRAS

lição 07

A fé verdadeira produz boas obras.  

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INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo da epístola universal de Tiago, estudaremos a passagem de Tg.2:14-26.

– A fé verdadeira produz boas obras.

I – A FÉ SEM OBRAS PARA NADA APROVEITA

– Na sequência do estudo da epístola universal de Tiago, estaremos a estudar a passagem de Tg.2:14-26, onde está o núcleo central da questão da fé e das obras, que é o principal tema desta epístola e que a tem causado uma série de discussões ao longo da história da Igreja, diante do entendimento de alguns, que já temos visto neste trimestre ser equivocado, de que haveria uma contradição entre o que ensina Tiago e o que ensina o apóstolo Paulo em seus escritos.

– Tiago estava a discorrer sobre a “lei real”, a “lei de Cristo” ou “lei da liberdade”, mostrando que o verdadeiro servo de Cristo Jesus tinha de ter maior justiça do que os escribas e fariseus (Mt.5:20), uma vez que, ao contrário dos religiosos judeus daquele tempo, não se preocupava apenas em ter uma aparência exterior de santidade, mas uma santidade real, que advinha desde o interior, tanto que, se quebrasse um mandamento, estaria a quebrar todos os outros, uma concepção bem diferente daquela defendida pelos religiosos meramente formais.

– Já este entendimento de Tiago mostra-nos, com absoluta clareza, que seu entendimento é em tudo coerente e harmônico com o do apóstolo Paulo, que, também, em seus escritos, mostra que a fé nasce de uma operação sobrenatural, através do ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17), fé que opera a justificação do homem (Rm.5:1), fazendo com que o homem venha a ter comunhão com o Senhor, passando a ter vida espiritual.

– Mantendo esta linha de pensamento, o irmão do Senhor, então, faz uma pergunta importantíssima: “Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? (Tg.2:14).

– Esta indagação de Tiago está relacionada com o discurso que estava a proferir, onde, repudiando a aparência exterior, havia dito: “Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade, porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia, e a misericórdia triunfa do juízo” (Tg.2:12,13).

– Percebe-se, portanto, que o tema tratado do Tiago é o da necessidade de uma harmonia entre o que se fala e o que se faz, mostrando que um verdadeiro servo de Cristo não somente fala a respeito do Evangelho, mas vive conforme o Evangelho, pois, como afirmou o nosso ilustre comentarista na lição anterior, a “lei da liberdade” nada mais é que o Evangelho.

– Portanto, quando Tiago faz a pergunta: “porventura a fé pode salvá-lo?”, está a se referir uma fé meramente de palavras, uma fé professada apenas com dizeres, que não correspondia a uma vida de comunhão com o

3º Trimestre de 2014 – FÉ E OBRAS – Ensinos de Tiago para uma vida cristã autêntica

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Senhor, uma suposta fé que nada mais era que uma reprodução do farisaísmo no meio dos que cristãos se dizem ser.

– Tiago mostra que nada adiantava dizer que se cria em Jesus Cristo, se a vida não correspondesse a este suposto crédito. É o mesmo que se alguém dizer, nos dias de hoje, que alguma pessoa tem crédito para com ela, mas não confia em coisa alguma que aquela pessoa diga ou faça.

– Não são poucos, em nossos dias, que age desta maneira reprovada por Tiago. Dizem ser cristãos, dizem crer em Jesus Cristo, mas suas vidas não demonstram haver esta confiança, esta crença. Fazem o que bem entendem, vivem como se Jesus não existisse, não fazendo o que a Palavra de Deus indica, embora possam, muitas vezes, dizer de cor os credos, as profissões de fé das diversas denominações cristãs. São falsos cristãos, visto que, como diz o irmão do Senhor, possuem uma fé inoperante, que não tem qualquer valor.

– No sermão do monte, o Senhor Jesus deixou bem claro que uma das formas pelas quais um discípulo Seu seria reconhecido pelos seus frutos, ou seja, pelas suas obras, pois elas revelam o que há no interior (Mt.7:15-20).

– Na parábola do semeador (Mt.13:1-23; Mc.4:1-20; Lc.8:4-15), o Senhor Jesus bem demonstrara que a fé genuína é aquela que produz frutos. Naquela parábola, o Senhor Jesus mostra que a semente é a Palavra de Deus e que somente quando ela cai em boa terra, haverá a produção de frutos. Como a Palavra de Deus é o meio pelo qual se transfere a fé para o homem, vemos que somente quando ela produz frutos é que saberemos, realmente, que ela foi gerada num ser humano.

– Nas Suas últimas instruções, o Senhor Jesus também ensinara que havia escolhido os Seus discípulos para que eles dessem fruto e fruto permanente (Jo.15:16).

– Deste modo, vemos que Tiago em nada discrepa dos ensinos do Senhor Jesus ao mostrar que havia absoluta necessidade de que o autêntico servo de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é uma pessoa que demonstra, por suas atitudes, por seu comportamento, que teve uma transformação interna, que é uma nova criatura em Cristo Jesus e que, portanto, não vive mais conforme os filhos da desobediência nem os filhos da ira, mas, agora, vivem para fazer a vontade de Deus.

– O apóstolo Paulo também segue esta mesma linha de pensamento, em que pese ter se entendido, erroneamente, que haveria uma contradição entre o que diz o apóstolo dos gentios e o irmão do Senhor.

– Na própria epístola aos romanos, conhecida como a epístola da justificação pela fé, vemos que o pensamento de Paulo é exatamente o pensamento apresentado tanto pelo Senhor Jesus, como por Tiago, Seu meio-irmão.

– Paulo, em Rm.12, mostra, com clareza, que os irmãos, ou seja, os salvos na pessoa de Jesus Cristo, deveriam “transformar-se pela renovação do seu entendimento” (Rm.12:2) e, deste modo, o amor não deveria ser fingido, aborrecendo o mal e se apegando ao bem (Rm.12:9) e este amor não fingido, este apego ao bem levava o servo de Cristo a comunicar com os santos nas suas necessidades (Rm.12:13), bem como a dar de comer ao inimigo que tivesse fome e dar de beber ao inimigo que tivesse sede (Rm.12:20).

– Portanto, que diferença há entre o pensamento de Paulo e de Tiago? Nenhuma! O apóstolo dos gentios é bem claro ao mostrar que aquele que tem a sua mente transformada, aquele que experimentou, de verdade, a vontade de Deus, que nasceu de novo, recebendo a fé pela Palavra de Deus, é alguém que se apega ao bem e que aborrece o mal e esta atitude o faz realizar boas obras, pois ele é capaz, inclusive, de dar de comer e beber aos seus próprios inimigos, porque agora está impregnado do amor de Deus e, por conseguinte, do amor fraternal, do amor ao próximo, que é a mesma “lei real” mencionada por Tiago.

– Notamos, portanto, que o ensino bíblico é de que a fé em Cristo Jesus gera, por primeiro, uma transformação interior, a pessoa entra na graça de Cristo, passa a ter uma nova vida, passa a ter comunhão com o Senhor e esta comunhão faz com que o salvo na pessoa de Nosso Senhor seja uma pessoa que, doravante, pratica boas obras, faz o bem, pois é um imitador do seu Senhor, que, no mundo, andou fazendo bem, curando a todos os oprimidos do diabo (At.10:38).

– A fé é provada, portanto, com a prática de boas obras. Sem que haja estas obras, não é possível que se possa dizer que alguém tenha fé. Pode dizer que tem fé, pode pronunciar com seus lábios não só que tem fé, mas até recitar um “credo religioso”, mas isto nada vale, isto para nada aproveita, isto não demonstra que se tenha fé. A fé somente é comprovada mediante uma conduta, um comportamento que revele a presença desta nova criatura em Cristo Jesus.

– A justificação do homem pela fé, ou seja, o ato pelo qual o homem passou a não ser mais considerado culpado por Deus por causa do sacrifício de Jesus na cruz do Calvário, é um ato imperceptível aos olhos humanos, algo que não podemos ver com nossos próprios olhos.

– No entanto, quando uma pessoa é justificada pela fé e passa a ter paz com Deus (Rm.5:1), ela recebe o amor de Deus em seus corações (Rm.5:5) e este amor de Deus pode ser provado mediante atitudes concretas, que revelam esta nova natureza advinda da salvação.

– Assim como Deus prova o Seu amor para conosco porque Cristo morreu por nós quando nós ainda éramos pecadores (Rm.5:8), ou seja, através de um ato concreto, de entrega total em favor do homem, em favor do próximo, o cristão, ou seja, aquele que é “parecido com Cristo”, que é um “pequeno Cristo”, também provará ter o amor de Deus se agir de igual modo, estando pronto a amar o próximo como a si mesmo, a entregar-se em prol do outro.

 OBS: “…a prática das obras é em todos os lugares necessária: sem ela o nome de cristãos não nos poderá ser útil. E não fiquem surpresos, pois, digam-me, que ganha o soldado que está em um exército, se ele não se mostra digno do serviço militar, no combate em favor do rei que o alimenta?…” (JOÃO CRISÓSTOMO. Nona homilia: da penitência – daqueles que faltam nas assembleias –da mesa santa – do julgamento. Cit. Tg.2:14-17. n, 18900. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 18 jun, 2014) (tradução nossa de texto em francês).

II – A FÉ É MANIFESTADA PELO AMOR AO PRÓXIMO  

– Tiago mostra que a fé é provada pela presença do amor de Deus na vida do que se diz salvo em Cristo Jesus, seguindo, assim, neste passo, precisamente o que Paulo ensina aos romanos, como já dissemos supra, sendo, aliás, em certo sentido, até menos exigente que o apóstolo dos gentios, na medida em que este fala que o salvo precisa dar de comer e de beber aos seus inimigos, enquanto que o irmão do Senhor exemplifica este amor com os próprios irmãos.

– Tiago afirma que se um irmão ou irmã estiverem nus e com falta de mantimento cotidiano e forem simplesmente despedidos por um que se diz cristão, sem que lhes sejam dadas as coisas necessárias para o corpo, tal atitude será completamente sem qualquer proveito e não provará, de forma alguma, que o sedizente cristão que assim procedeu agiu como se tivesse fé (Tg.2:15,16).

OBS: Reproduzimos aqui, por sua biblicidade, trecho de encíclica do ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II: “…Em virtude da participação na missão real de Cristo, o apoio e a promoção da vida humana devem atuar-se através do serviço da caridade, que se exprime no testemunho pessoal, nas diversas formas de voluntariado, na animação social e no compromisso político.

Trata-se de uma exigência sobremaneira premente na hora atual, em que a « cultura da morte » se contrapõe à « cultura da vida », de forma tão forte que muitas vezes parece levar a melhor. Antes ainda, porém, trata-se de uma exigência que nasce da « fé que atua pela caridade » (Ga 5,6), como nos adverte a Carta de S. Tiago: « De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem fé se não tiver obras? Acaso essa fé poderá salvá-lo?

Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhe disser: “Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos”, sem lhes dar o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, é morta em si mesma » (Tg 2,14-17). No serviço da caridade, há uma atitude que nos há de animar e caracterizar: devemos cuidar do outro enquanto pessoa confiada por Deus à nossa responsabilidade. Como discípulos de Jesus, somos chamados a fazermo-nos próximo de cada homem (cf. Lc 10,29-37), reservando uma preferência especial a quem vive mais pobre, sozinho e necessitado. É precisamente através da ajuda prestada ao faminto, ao sedento, ao estrangeiro, ao nu, ao doente, ao encarcerado — como também à criança ainda não nascida, ao idoso que está doente ou perto da morte —, que temos a possibilidade de servir Jesus, como Ele mesmo declarou: « Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes » (Mt 25,40).

Por isso, não podemos deixar de nos sentir interpelados e julgados por esta página sempre atual de S. João Crisóstomo: « Queres honrar o corpo de Cristo? Não O transcures quando se encontrar nu! Não vale prestares honras aqui no templo com tecidos de seda, e depois transcurá-Lo lá fora, onde sofre frio e nudez » (Homílias sobre Mateus, L, 3; PG 58,508).

O serviço da caridade a favor da vida deve ser profundamente unitário: não pode tolerar unilateralismos e discriminações, já que a vida humana é sagrada e inviolável em todas as suas fases e situações; é um bem indivisível. Trata-se de «cuidar » da vida toda e da vida de todos.

Ou melhor ainda e mais profundamente, trata-se de ir até às próprias raízes da vida e do amor.Partindo exatamente deste amor profundo por todo o homem e mulher, foi-se desenvolvendo, ao longo dos séculos, uma extraordinária história de caridade, que introduziu, na vida eclesial e civil, numerosas estruturas de serviço à vida, que suscitam a admiração até do observador menos prevenido.

É uma história que cada comunidade cristã deve, com renovado sentido de responsabilidade, continuar a escrever graças a uma múltipla ação pastoral e social. Neste sentido, é preciso criar formas discretas mas eficazes de acompanhamento da vida nascente, prestando uma especial solidariedade àquelas mães que, mesmo privadas do apoio do pai, não temem trazer ao mundo o seu filho e educá-lo.

Cuidado análogo deve ser reservado à vida provada pela marginalização ou pelo sofrimento, de forma particular nas suas etapas finais.…(JOÃO PAULO II. Evangelium vitae, n.87. Cit. Tg.2:14-17. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 18 jun. 2014).

– Nesta ilustração, por primeiro, Tiago evoca aqui, uma vez mais, o sermão do monte, quando o Senhor Jesus mostra que as necessidades básicas materiais de um ser humano é a comida, a bebida e o vestir (Mt.6:31,32), ensino este que é repetido por Paulo (I Tm.6:8).

– Assim, precisamos ter muito cuidado com o consumismo desenfreado e o materialismo excessivo que tem dominado muitos corações dos que cristãos se dizem ser em nossos dias. O mundo está a levar muitos servos do Senhor Jesus a se preocuparem em demasia com a satisfação de desejos que vão muito além do que é absolutamente essencial, que é o sustento e o vestido, de sorte que, por causa desta obsessão, tem deixado de lado as coisas realmente importantes e essenciais, que são as eternas, as relativas ao reino de Deus e sua justiça.

– Nos dias em que vivemos, muitos já não mais se contentam com o sustento e o vestir, querendo uma vida regalada, uma vida dotada de todo o conforto e de tudo quanto a tecnologia tem oferecido e, para tanto, tem se dedicado horas e horas de suas vidas para obter recursos que possam arcar com todas estas comodidades, muitas delas excessivas e que são tornadas “essenciais” pela publicidade, pela propaganda, dentro da ganância própria dos sistemas econômicos vigentes neste mundo sem Deus e sem salvação.

– Todavia, como servos de Cristo Jesus, como pessoas que dão prioridade ao reino de Deus e à sua justiça (Mt.6:33), temos de ter uma mentalidade completamente distinta, não só priorizando as coisas espirituais, mas também reconhecendo que o Senhor quer que todos os homens tenham o necessário para sobreviver, ou seja, a comida, a bebida e o vestir, que são coisas necessárias, como reconheceu o Senhor Jesus.

– Desta forma, sabendo que o nosso Deus reconhece que o sustento e o vestir são necessários, não podemos, de modo algum, nos conformarmos com uma sociedade em que tais necessidades básicas são negadas aos seres humanos, enquanto muitos querem ter uma vida regalada, repleta de comodidades que, em si, não são necessárias, mas que levam muitos a negligenciar o mínimo necessário para o seu próximo, num egoísmo que é próprio de uma sociedade que não serve ao Senhor, numa sociedade dominada pelo pecado, que é iniquidade, ou seja, injustiça (I Jo.3:4).

– Ora, sabendo que o Senhor Jesus disse que o Pai sabe que necessitamos destas coisas materiais (comida, bebida e vestimenta) (Mt.6:32), é completamente incompreensível que quem experimentou a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm.12:1-2), permita que um irmão ou irmã careça destes elementos em sua peregrinação terrena e, vendo que alguém está a passar fome, sede ou não tenha com que se vestir, assim permaneça.

– Como posso chamar alguém de irmão ou irmã, dizendo que temos o mesmo Pai, se não damos a este irmão ou irmã o necessário para que ele coma, beba ou vista, sabendo que o nosso Pai sabe que necessitamos destas coisas? Como alguém pode dizer estar em comunhão com Deus se não atenta para estas necessidades do próximo?

– Se somos filhos de Deus, se passamos a participar da natureza divina (II Pe.1:4), é natural que compreendamos a necessidade do irmão faminto e nu e, deste modo, supramo-lhes a necessidade, dando o necessário para que ele supere esta situação de carência com que se apresentou a nós.

– Alguém pode dizer que tal atitude somente seria devida por quem é abastado, por quem recebeu de Deus mais do que necessitava, pois, repetindo ensino dos rabinos judeus, tal pessoa, que teria além do necessário, assim teria recebido precisamente para ser um agente de Deus, alguém pronto a ajudar os necessitados, pois teria um débito para com Deus.

– Não resta dúvida de que aquele que tem mais do que o necessário, assim recebeu da parte de Deus para repartir com os pobres, é, de certo modo, alguém que Deus constituiu na Terra para poder ajudar o próximo, tendo este dever diante do Senhor, que o constituiu com o além do necessário para exercer este ministério.

– No entanto, o fato de haver abastados, pessoas que têm além do necessário, não exime os demais, se realmente são filhos de Deus, de ajudar aquele que precisa. Mesmo aquele que não é rico, materialmente falando, mas que é um verdadeiro servo de Deus, tem o dever de ajudar aquele que está a precisar mais do que ele. Tiago não diz que apenas os ricos devam ajudar, mas, sim, que, se um irmão ou irmã vier até nós carecendo do que é absolutamente necessário, devemos nós, independentemente de nossa condição social ou econômico-financeira, suprir as suas prementes necessidades.

– Aí vemos que há uma verdadeira fé. A fé não só se revela na prática das boas obras, pois não há que se falar em fé que não produza frutos, como também na própria confiança em Deus. Quando alguém que não tem muitos recursos ajuda o próximo, ele está a provar que confia em Deus, visto que o Senhor afirma que nosso Pai sabe que precisamos comer, beber e vestir, mas que acrescentará todas estas coisas se buscarmos, com prioridade, o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33).

OBS: Reproduzimos, aqui, palavra do ex-chefe da Igreja Romana, Paulo VI, por sua biblicidade: “…não é verdadeiro que a fé seja um entrave à ação. Neste ponto de vista, também, o contrário é que é verdadeiro: a fé exige a ação, ela é um princípio dinâmico de moralidade (justus ex fide vivit)[o justo viverá da fé – observação nossa], o homem inspira sua própria vida diante da sua fé. É uma expressão sintética do pensamento de São Paulo (Hb.10:38) e São Tiago precisa: “a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg.2:17).

A fé comporta uma exigência de ação que emerge em caridade, isto é, em uma ação movida pelo amor a Deus e ao próximo.…” (PAULO VI. Audiência de 5 de junho de 1968. Cit. Tg.2:14- 17. n.31. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 18 jun. 2014).

– Ora, quando ajudamos um necessitado, não o que nos sobra, mas com o que temos e que até nos poderá fazer falta, estamos buscando o reino de Deus e a sua justiça, visto que o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm.14:17).

Ao dar o que comer, beber e vestir ao nosso irmão ou irmã, mesmo que isto, em tese, possa nos fazer falta, nós estamos cumprindo a vontade de Deus, demonstrando nossa compaixão para com aquele que é imagem e semelhança de Deus, e tal gesto, certamente, fará com que o Senhor nos acrescente o que é necessário, não permitindo que nada nos falte. Esta é uma atitude de fé, de confiança em Deus e na Sua Palavra.

– Despedir alguém que está necessitado sem lhe suprir a necessidade não é demonstração de fé, mas de grande hipocrisia. Dizer que o Senhor suprirá a necessidade, fazendo uma oração com o necessitado, mas não se dispondo a ajudá-lo é mera retórica, é a negação da própria fé. Quem assim age demonstra não confiar em Deus, pois não se sujeita a ajudar a pessoa, tornando-se participante da confiança em Deus do que é ajudado. A fé verdadeira traduz-se por atitudes, não por meras palavras.

– O apóstolo João repete este ensino de Tiago, ao mostrar que o verdadeiro amor também não se prova com palavras, mas com obras (I Jo.3:17,18). O apóstolo do amor é claríssimo ao mostrar que quem tem o amor de Deus não cerra as suas entranhas, ou seja, tem um interior aberto ao próximo, que está decidido a promover o bem do outro, a se entregar para o outro.

– Por isso Tiago chama o amor ao próximo de “lei real”, ou seja, quem ama o próximo, quem tem fé em Deus, pois o amor é decorrência da fé, que é o meio pelo qual entramos nesta graça (Rm.5:1,2), é alguém que faz bem ao próximo, pois o amor é sobretudo um comportamento, uma conduta que se segue a um simples sentimento. Diz João que conhecemos o amor porque Cristo deu a vida por nós e nós, por conseguinte, devemos dar a nossa vida pelos irmãos (I Jo.3:16).

– É a “lei real”, ou seja, algo que se pode constatar na realidade cotidiana, no dia-a-dia, naquilo que vemos e ouvimos, não algo que esteja apenas no “mundo das ideias”, algo que esteja apenas na mente e no discurso, sem qualquer repercussão na vida diária.

– Uma fé sem obras, diz Tiago, é morta em si mesma, ou seja, é uma fé que não existe, que é uma mera invencionice mental, uma ilusão. Pode até ter nascido em algum momento, como nos dá conta o Senhor Jesus na parábola do semeador, mas que deixou de existir, porquanto não é provada pela prática de boas obras.

– Fé sem obras é uma ilusão, algo que não existe nem pode existir. Tiago é bem claro ao dizer que não faz sentido alguém dizer que tem fé, não tendo obras ou alguém dizer que tem obras, não tendo fé (Tg.2:18).

– É precisamente neste ponto que vemos que Tiago não pode, em absoluto, ser utilizado como justificativa bíblica para aqueles que defendem a salvação pelas obras. Tiago diz que se alguém diz que tem fé e outro diz que tem obras, ambos estão iludidos, falam sobre o que não existe, mas o irmão do Senhor é enfático em afirmar que a estes ele mostraria a sua fé pelas suas obras.

– Já vimos que alguém que diz ter fé e não tem obras, é meramente um falante, alguém que diz algo que não possui efetivamente. Uma fé meramente de palavras, de discurso inexiste, é uma ilusão de uma mente deturpada pelo maligno.

– Tiago é incisivo ao dizer que crer que Deus existe é algo que até os demônios fazem (Tg.2:19), até porque conviviam eles com Deus antes de pecarem. Assim, quando alguém afirma que Deus existe não está a demonstrar qualquer fé, mas faz uma mera constatação intelectual, sem qualquer resultado prático, pois se até os demônios o fazem, e estão eles irremediavelmente condenados ao lago de fogo e enxofre (Mt.25:41), o fato de alguém dizer que crê que Deus existe é absolutamente irrelevante em termos de salvação.

 OBS: “…A fé morta é uma fé que atinge apenas o intelecto. A fé dos demônios atinge o intelecto e também as emoções. Os demônios têm um estágio mais avançado de fé que muitos crentes. A fé dos demônios não é apenas intelectual, mas também emocional. Eles creem e tremem!…” ((LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. Comentários expositivos Hagnos. São Paulo: Hagnos, 2006. p.51. Digitalização de Emmanuence Digital).

– Tal afirmação de Tiago é extremamente importante, pois nos mostra que muitos que se dizem cristãos, religiosos ou piedosos, pelo simples fato de afirmarem crerem em Deus, estão completamente enganados e iludidos. O chamado “ateísmo prático”, ou seja, um modo de vida que não leva em conta a vontade de Deus, é um mal que tem assolado milhões e milhões de pessoas que se afirmam tementes a Deus, mas não o são. Tem sido esta uma grande ilusão nos nossos dias, inclusive entre os que cristãos se dizem ser.

– Com efeito, é muito triste verificarmos a existência de “cristãos nominais”, ou seja, pessoas que dizem ser cristãs, que dizem crer em Cristo Jesus, mas que se limitam a isso, não tendo qualquer atitude que demonstre crerem elas em Jesus, simplesmente porque não fazem o que Cristo manda, mas tão somente o que bem entendem.

São pessoas que caem nesta armadilha mencionada por Tiago, que não são melhores que os próprios demônios, ou quiçá, são piores que os demônios, pois Tiago diz que estes seres malignos estremecem quando se lhes é dito o nome do Senhor Jesus, quando o Senhor Jesus a eles se apresenta, enquanto que estes “ateus práticos” nem se incomodam com a presença de Deus, pois, para eles, em suas vidas reais, em suas atitudes e comportamentos, há uma completa indiferença em relação a Deus, vivem como se Deus não existisse, embora digam que creiam na Sua existência. Será que não estamos assim, amados irmãos? Pensemos nisto!

 OBS: “…em dado momento de nossas vidas, antes da conversão, do chamado de Deus para vivermos a glória da regeneração em Cristo, éramos ateus, pois vivíamos sem Deus. Lembram-se que a palavra ateu quer dizer “sem Deus”? Pois bem, todos nós, sem exceção, ainda que tendo o conhecimento inato de Deus, o qual o próprio Deus colocou em nosso coração, vivemos sem ele, até que sejamos por ele transformados.

De criaturas em filhos.(…) Paulo se refere aos efésios e, por tabela, a todos nós que vivíamos segundo a carne e pela carne, como ateus práticos. Eles não negavam a existência de Deus, pelo contrário, eles cultuavam outros deuses. E, muitos, diziam servir a Deus, amá-lo, honrá-lo. Porém, suas vidas revelavam o contrário.

Ao darem vazão aos seus instintos e intentos carnais eles negavam a Deus ignorando-o, fazendo exatamente tudo o que lhe afrontava, pervertendo os seus caminhos, afastando-se de todo o seu conhecimento, desobedecendo-o e rejeitando os seus preceitos.

 Eles, como nós, viviam para satisfazer os seus prazeres e desejos, na forma do pecado, e assim seus discursos eram aparentemente piedosos, reverentes, mas em seus corações e em suas vidas havia apenas a descrença em Deus: ‘Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toa a boa obra’ [Tt 1.16], resume o apóstolo. O fato de usarem o nome de Deus não os faz dignos dele; pois o Deus que diziam servir e adorar nada tinha a ver com o Deus vivo e verdadeiro, o Deus bíblico.

 E é aqui que o problema tem contornos ainda mais dramáticos; pois eles, como nós, criavam a ilusão de estar servindo a Deus, de cultuá-lo, de se colocar a seu serviço, quando não queriam nada com ele. Elegeram um Deus “postiço”, um substituto, e o fizeram objeto de adoração.(…). Quando ouço coisas do tipo: “Não leio a Bíblia, mas eu sirvo a Deus”, pergunto para a pessoa: Mas a qual Deus? Elas, na maioria das vezes, dizem servir a um Deus que não podem identificar, um Deus indeterminado, impessoal.

Ele estaria mais para uma entidade abstrata e imprecisa, e, como servir e adorar o que não se conhece ou pode conhecer? Então, normalmente dizem: “Esta é a minha fé, e Deus a aceita como ela é!”. Nisso há alguma razão. Ele tem uma fé que não é sobrenatural, que não provém de Deus, mas uma fé humana, claudicante, frágil e enganosa.

Uma fé gerada em seu próprio coração iníquo. E que o lança ainda mais na ilusão ao afirmar que Deus a aceita como ela é, mas como sabê-lo? Deus falou diretamente com ele? Ou não passa de uma suposição, um pensamento derivado da sua necessidade de manter-se distante e protegido da verdade?

Todos fomos assim um dia; ateus práticos, que não dizíamos negar a Deus, mas o negávamos diariamente mantendo-nos ignorantes quanto a ele, mantendo-nos distantes dele, presumindo que os nossos conceitos e opiniões pudessem ser superiores à Revelação escriturística, de forma que ela fosse dispensável.

 De forma que tanto a moral que tínhamos, como a ética, como o julgamento, eram claramente uma indisposição, uma má vontade contra ele. Qualquer um que diga conhecer e servir a Deus fora dos padrões estabelecidos pelo próprio Deus é um ateu prático. Certamente ele não professará a fé ateísta, mas se manterá como um ateu secreto.…” (Ateísmo prático. Disponível em: http://afeexplicada.wordpress.com/2012/03/27/ateismo-pratico/ Acesso em 17 jun. 2014)

– Tiago chama de homem vão aquele que diz ter fé mas que não pratica boas obras (Tg.2:20). Esta afirmação de Tiago é interessante, porquanto revela que o homem que diz ter fé mas não pratica boas obras, e, portanto, cuja fé é morta, é um homem do mundo, alguém que não se tornou nova criatura em Cristo Jesus.

 Ao chamá-lo de “vão”, ou seja, vazio, o irmão do Senhor como que faz uma conotação com os escritos de Salomão, mais precisamente o livro de Eclesiastes, onde o sábio rei vai chamar de “vaidade” tudo quanto existe sobre a face da Terra, tudo quanto sucede debaixo do sol (Ec.1:2; 12:8), ou seja, aquilo que é próprio deste mundo, que não tem ligação alguma com Deus.

– De igual forma, porém, é aquele que pratica boas obras, mas não tem fé. De nada adianta fazermos bem, se não confiamos em Deus, se não recebemos de Deus, pela Palavra de Deus, a fé em Cristo Jesus, que nos proporciona a salvação, a entrada na graça de Deus.

– Fazer coisas boas, dar coisas boas a alguém nada representa no campo espiritual. O Senhor Jesus foi claríssimo ao dizer que as pessoas más sabem dar boas dádivas aos seus filhos (Mt.7:11). Portanto, alguém pode fazer o bem ao próximo sem que isto represente que tenha fé em Deus.

– As obras, por si sós, não operam a salvação, porque a salvação não vem do homem, ela vem de Deus. Quando alguém não recebe a Palavra de Deus, e, portanto, não recebe a fé, que vem pelo ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17), pois a fé é um dom de Deus (Ef.2:8), tem-se que não se tem fé e, portanto, as boas ações eventualmente praticadas não representam um fruto da fé, mas, sim, uma demonstração de autossuficiência que é espiritualmente desastrosa.

– A prática de boas obras sem fé é uma exaltação humana. O homem pensa que, ao fazer o bem ao próximo, adquire condições de obter a vida eterna, de conseguir, por seus próprios méritos, a religação com Deus. É por esta razão que todas as religiões humanas têm, em seus preceitos, a prática de boas obras como forma de obtenção da salvação ou do que a ela equivale conforme os seus preceitos, algo como “evolução espiritual”, “progresso espiritual” e tantas outras coisas mais.

– Era este pensamento típico das falsas religiões que tanto indignou Martinho Lutero e os reformadores em geral e que os levaram a reaviventar o ensino bíblico da justificação pela fé. As obras não justificam o homem, não o tornam bom, algo que é feito apenas pela fé em Cristo Jesus. Tal situação, aliás, jamais foi defendida por Tiago, como admite, atualmente, a própria Igreja Romana, como se vê, por exemplo, no documento chamado de “Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação da Federação Luterana Mundial e da Igreja Católica”, em que se afirmou o seguinte: “Confessamos juntos: somente por graça, na fé na obra salvífica de Cristo, e não por causa de nosso mérito, somos aceitos por Deus e recebemos o Espírito Santo, que nos renova os corações e nos capacita e chama para as boas obras” (Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_Conjunta_Sobre_a_Doutrina_da_Justifica%C3%A7 %C3%A3o Acesso em 17 jun. 2014).

 OBS: O ex-chefe da Igreja Católica Bento XVI também reconheceu este fato em uma de suas catequeses sobre o apóstolo Paulo, em trecho que, por sua biblicidade, reproduzimos: “…eguindo São Paulo, vimos que o homem não está em condições de se tornar “justo” com as suas próprias acções, mas só pode realmente tornar-se “justo” diante de Deus porque Deus lhe confere a sua “justiça” unindo-o a Cristo, seu Filho.

E o homem obtém esta união com Cristo através da fé. Neste sentido São Paulo diz-nos: não são as nossas obras que nos tornam “justos”, mas a fé. Contudo, esta fé não é um pensamento, uma opinião, uma ideia. Esta fé é comunhão com Cristo, que o Senhor nos doa e por isso se torna vida, conformidade com Ele.

Ou, por outras palavras, a fé, se é verdadeira, se é real, torna-se amor, caridade, expressa-se na caridade. Uma fé sem caridade, sem este fruto não seria verdadeira. Seria fé morta.Encontramos por conseguinte na última catequese dois níveis: o da irrelevância das nossas acções, das nossas obras para a consecução da salvação e o da “justificação” mediante a fé que produz o fruto do Espírito.

 A confusão destes dois níveis causou, ao longo dos séculos, não poucos mal-entendidos na cristandade (…) a centralidade da justificação sem obras, objeto primário da pregação de Paulo, não entra em contradição com a fé ativa no amor; aliás, exige que a nossa mesma fé se exprima numa vida segundo o Espírito.

Com frequência viu-se uma infundada oposição entre a teologia de São Paulo e a de São Tiago, que na sua Carta escreve: “Assim como o corpo sem a alma é morto, assim também a fé sem obras é morta” (2, 26). Na realidade, enquanto Paulo está antes de tudo preocupado em mostrar que a fé em Cristo é necessária e suficiente, Tiago realça as relações consequenciais entre a fé e as obras (cf. Tg 2, 2-4). Portanto quer para Paulo quer para Tiago a fé ativa no amor confirma o dom gratuito da justificação em Cristo.

A salvação, recebida em Cristo, tem necessidade de ser constituída e testemunhada “com respeito e temor. De facto, é Deus quem suscita em vós o valor e as obras segundo o seu desígnio de amor. Fazei tudo sem murmurar e sem hesitar… mantendo firme a palavra de vida”, dirá ainda São Paulo aos cristãos de Filipos (cf. Fl 2, 12-14.16).…” (Audiência de 26 de novembro de 2008. Catequese de São Paulo – XIV: a doutrina da justificação – da fé às obras. Disponível em: http://escritosdepaulo.blogspot.com.br/2010/05/catequese-14-de-bento-xvi.html Acesso em 17 jun. 2014).

– Completamente falso, portanto, qualquer ensino que diga que, por meio da prática de uma boa obra, o homem alcançará a salvação ou qualquer favor espiritual que implique em uma redenção, pois a salvação não pode vir das obras para que ninguém se glorie (Ef.2:8,9).

– É evidente que a prática de boas obras, ao traduzir uma fé operante e viva, faz com que os homens cresçam espiritualmente, pois a fé é algo que pode crescer (Lc.17:5; Mt.13:31 c.c. Lc.13:19), bem como credenciam os homens a receberem galardão no Tribunal de Cristo (II Co.5:10; Ap.22:12), mas tudo isto são consequências de uma redenção, não trazem a redenção em si.

– Por isso, não pode ser aceita a posição adotada pela Igreja Romana, reafirmada no Concílio de Trento, convocado para combater a Reforma Protestante, de que a prática de boas obras produz um “aumento de graça”, mediante o qual se eliminam as “obrigações de penas temporais a pagar”, que é, precisamente, a origem da doutrina das indulgências, ou seja, da necessidade de prática de boas obras para perdão das “penas temporais” resultantes dos pecados cometidos, algo que, lamentavelmente, não está apenas no Romanismo, mas em muitas práticas que se veem hoje em dia entre os que se dizem ser evangélicos, que acham que por fazerem isto ou aquilo “encurralam” Deus a lhes conceder bênçãos.

III – OS EXEMPLOS DE ABRAÃO E RAABE  

– Seguindo a linha típica de um sermão judaico, Tiago, então, após mencionar a realidade da fé e das obras, mostrando que não pode haver fé sem que haja a prática de boas obras, apresenta duas ilustrações das Escrituras para comprovar o seu discurso.

– O primeiro exemplo que dá é o de Abraão, o pai da fé (Rm.4:12), exemplo este que foi mais um fator para que alguns entendessem haver contradição entre Paulo e Tiago, já que Paulo, ao falar da justificação pela fé, toma a Abraão como exemplo (Rm.4).

– A tomada do mesmo exemplo é antes um fator para nos mostrar que há perfeita consonância entre os ensinos tanto de Paulo quanto de Tiago. Além do mais, é praticamente impossível falar-se de fé e não se mencionar Abraão, que é o pai da fé, que é a personagem que mais nos ensina o que é ter fé em Deus em toda a Bíblia Sagrada.

– Paulo, ao falar de Abraão, mostra-nos o lado passivo da fé, ou seja, como a fé é trazida ao homem por um gesto gratuito de Deus, como a fé tem origem em Deus, independentemente de qualquer ação humana que não seja a de ouvir a Palavra de Deus e recebê-la.

– Ao mencionar o episódio narrado em Gn.15, o apóstolo dos gentios mostra como se restaurou a fé na vida de Abraão. O velho patriarca, depois de ter demonstrado fé em Deus ao deixar todas as coisas em Ur dos caldeus, havia entrado em uma crise de fé, pois, após a guerra em que fora envolvido, viu que nada daquilo que Deus lhe havia dito havia ainda acontecido. Continuava sem herdeiros e, deste modo, como poderia ser pai de nações, como lhe fora prometido?

– Em meio a esta crise de fé, o Senhor lhe mandou que saísse da tenda e olhasse para o céu e para as estrelas e, ao ver talvez o céu mais estrelado de toda a história da humanidade, bem ao ouvir Deus lhe dizer que assim seria sua descendência, Abraão creu, voltou a crer, voltou a confiar em Deus, ainda que nenhuma das circunstâncias que lhe havia feito esmorecer tivesse sido mudada.

– O texto sagrado diz que, no momento em que Abraão creu naquilo que Deus lhe havia dito, foi justificado diante de Deus, pois tal atitude passiva lhe foi imputada por justiça (Gn.15:6). A fé, vinda da Palavra de Deus, justificou o velho patriarca, que, assim, passou a ser considerado justo pelo Senhor. OBS: “…Tiago falou que nascemos da Palavra (1.18), ouvimos a Palavra (1.19), acolhemos a Palavra (1.21), mas devemos também praticar a Palavra (1.23).

Ouvir a Palavra e falar a Palavra não substitui o praticar a Palavra. Apenas ter uma confissão de fé ortodoxa não substitui o praticar a Palavra.…” (LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. Comentários expositivos Hagnos. São Paulo: Hagnos, 2006. p.46. Digitalização de Emmanuence Digital).

– Ora, esta fé nascida (ou restaurada) em Abraão é provada pelo episódio mencionado por Tiago em sua ilustração, ou seja, o sacrifício de seu filho Isaque (Tg.2:21,22), o ápice da vida espiritual de Abraão, quando, inclusive, teve ele a visão do próprio Messias (Jo.8:56).

– Quando Abraão atende à ordem divina e leva seu filho Isaque para o sacrifício, estava a mostrar que realmente confiava em Deus, porquanto aquela crença nascida naquela noite estrelada mantinha-se viva, inabalável, perseverante. Como diz o escritor aos hebreus (que muitos entendem ser o próprio Paulo), Abraão não temeu obedecer a Deus, sabendo que, se Deus lhe havia dito que de Isaque seria a sua descendência, Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar (Hb.11:17,18).

– Abraão provou a sua fé quando ofereceu Isaque em sacrifício, mostrando-nos que uma fé verdadeira e genuína é sempre acompanhada de obras, obras feitas em Deus (Ef.2:10), obras feitas de acordo com a vontade de Deus, e não obras feitas por pura vaidade humana, por puro sentimento de autossuficiência, de confiança no homem.

– A fé traduzida em boas obras por Abraão fez com que ele aumentasse sua fé, que ele alcançasse um novo patamar espiritual. Tiago diz que esta prática de boas obras aperfeiçoa a fé, faz com que ela aumente (Tg.2:22). Com tal atitude, o velho patriarca teve confirmada a sua condição de pessoa justificada diante de Deus e, mais do que isto, comprovou que se tratava de um amigo de Deus, porquanto estava em comunhão com Ele e fazia o que Ele mandava, pois tais são os amigos do Senhor (Jo.14:21; 15:14).

– Observemos que, ao contrário do que diz o Romanismo, Abraão não se livrou das “penas temporais” do pecado ao sacrificar Isaque, mas, sim, teve acrescentada a sua fé, obteve de Deus um favor que era resultado de sua salvação, ou seja, teve confirmada a bênção da grande multiplicação de sua descendência, como também recebeu uma nova promessa, qual seja, a de que a sua semente possuiria a porta de seus inimigos, isto é, que a semente possuiria as cidades de seus inimigos (Gn.24:17).

– As boas obras não têm qualquer papel na salvação de alguém, mas ninguém que é salvo deixa de praticar boas obras. Abraão tinha fé e, por isso mesmo, praticou boas obras, tendo, inclusive, por sua fé, levado a obedecer a Deus mesmo em um assunto totalmente inexplicável como era o de sacrificar seu filho e, por ter obedecido a Deus e feito o que Deus mandou, uma atitude concreta, alcançou o reconhecimento divino e não só a reiteração das promessas, mas nova promessa em favor de sua descendência.

– Assim também devemos proceder, visto que, como diz o apóstolo Paulo, somos descendência de Abraão, já que somos de Cristo (Gl.2:29). Assim, da mesma maneira que Abraão provou sua fé levando Isaque ao sacrifício, também devemos provar nossa fé fazendo aquilo que Jesus manda.

– Não é, pois, à toa que o Senhor Jesus, no Seu sermão escatológico, identifica Seus discípulos como aqueles que fizeram bem ao próximo (Mt.25:31-46), porquanto somente quem tem fé é que praticará boas obras e serão, por isso mesmo, conhecidos e reconhecidos como genuínos e autênticos servos de Deus.

– Mas Tiago traz outra ilustração em seu ensino, a de Raabe, afirmando que ela foi justificada pelas obras, ao recolher os emissários e os despedir por outro caminho (Tg.2:25). O escritor aos hebreus afirma que este gesto praticado por Raabe foi resultado da fé que aquela meretriz teve em Deus (Hb.11:31).

– Quando lemos a narrativa bíblica a respeito, observamos que Raabe ouviu falar das obras de Deus em prol de Israel e, ao ouvir isto, creu que o Senhor era o único e verdadeiro Deus e que cumpriria aquilo que prometera aos israelitas, entregando-lhes a Terra Prometida (Js.2:8-13).

– Raabe foi justificada pela fé, porquanto creu no que ouviu a respeito de Deus, creu na Palavra de Deus e, por isso, não permitiu que os espias fossem presos pelos soldados jericoítas, sabendo que Deus iria entregar Canaã para o povo de Israel, como prometera. Sua fé fez com que fizesse bem aos espias, confiando que Jericó seria mesmo tomada pelos israelitas, pois era aquele o propósito de Deus.

– Quem realmente crê em Deus toma atitudes que estão de acordo com a vontade do Senhor, ainda que as circunstâncias sejam completamente adversas, ainda que o risco de praticar o bem seja alto demais para ser reconhecido pelos homens maus. Raabe, contra todas as evidências, resolveu esconder os espias, preservar- lhes a vida, porque havia crido na Palavra de Deus.

– Estes dois exemplos dados por Tiago apenas reafirmam o ensino de que a fé, vinda de Deus, produz no homem a capacidade de produzir boas obras, que são frutos desta fé. A fé é sempre acompanhada de boas obras, não há como se dizer ter fé sem que boas obras sejam produzidas.

– Quando vamos ao capítulo 11 da epístola aos Hebreus, onde está a chamada “galeria dos heróis da fé”, sempre verificamos que esta fé sempre se manifestou por obras. O escritor sempre afirma que alguma atitude, algum gesto foi praticado “pela fé”, ou seja, a fé sempre é manifestada mediante alguma ação efetiva da parte de quem a tem. Assim, Noé preparou a arca, Abraão partiu de sua terra, Moisés deixou o palácio de Faraó, o povo passou o Mar Vermelho e tantos outros tomaram atitudes que demonstraram que eram, realmente, homens e mulheres de fé.

– E nós, amados irmãos, temos demonstrado nossa fé através de nossas ações? Ou somos apenas pessoas que dizem ter fé, mas que não fazem coisa alguma daquilo que Deus nos manda em Sua Palavra?

– Somos pessoas que demonstram sua fé através da ajuda aos necessitados, do exercício do amor ao próximo, ou apenas somos pessoas de fé na retórica, que despedem aqueles que precisam, prometendo orar por eles, mas nada fazendo em seu favor?

– Tiago traz uma última ilustração para demonstrar o que é ter fé verdadeira e genuína. Diz que a fé sem obras é como o corpo sem o espírito (Tg.2:26). Ora, o corpo sem espírito, sabemos todos, nada mais é que pó, é algo sem vida, é algo que deve ser simplesmente sepultado, algo que cheira mal.

OBS: “…A partir da ilustração, Tiago conclui: a fé, se não tiver obras, por si só está morta. A expressão por si só (kath’ heautên) sugere, conforme diz Mayor, que a fé está “não apenas externamente inoperante, mas internamente morta”.1 Este tipo de fé é “em si inútil, inativa, inerte (o significado de nekros num contexto como este; cf. Rm 7.8; Hb 6.1; 9.14).

Então, o contraste não é entre fé e obras, mas entre fé “com obras” e fé “sem obras”. Esta última assemelha-se a um corpo sem espírito (cf. 2.26), sem vida, e não traz proveito algum para o dia do julgamento.…” (MOO, Douglas J. Tiago: introdução e comentário.  Trad. de Robinson Malkomes. São Paulo: Vida Nova. Escriba digital, p.103) (destaques originais).

– Quem diz ter fé e não pratica boas obras, é este corpo sem espírito. Trata-se de um morto espiritual, que, mais cedo, mais tarde, terá de ser sepultado, pois cheirará mal. Não é por outro motivo que o Senhor Jesus garante que, no meio do Seu povo, tudo quanto está oculto, um dia será revelado (Mt.10:26; Mc.4:22; Lc.12:2).

– Aquele que não produz fruto, diz o Senhor Jesus, mais cedo, mais tarde, será lançado fora, como a vara, secará, colhido e lançado no fogo, onde arderá (Jo.15:6). Quem não produz frutos, não está em Cristo Jesus e, por isso, não faz parte da videira verdadeira, motivo pelo qual será extirpado.

– As boas obras não justificam pessoa alguma, mas a pessoa justificada pela fé manifesta esta justificação pelas boas obras, motivo pelo qual Tiago diz que é “justificada pelas obras”, ou seja, demonstra ter uma fé verdadeira pelas obras que pratica.

OBS: “…Somos justificados diante de Deus pela fé, somos justificados diante dos homens pelas obras. Deus pode ver a nossa fé, mas os homens só podem ver as nossas obras.…” (LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. Comentários expositivos Hagnos. São Paulo: Hagnos, 2006. p.45. Digitalização de Emmanuence Digital).

– Somente alcançamos a justificação pela fé em Cristo Jesus (Rm.5:1), mas quem crê em Jesus, faz o que Ele manda e, por isso, sempre pratica boas obras, porque, quem está em comunhão com o Senhor, produz fruto e fruto permanente e abundante. Será que temos realmente fé em Jesus? Pensemos nisto!

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/files/3T2014_L7_caramuru.pdf

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